quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Novinho da Paraíba homenageia Gonzagão



Por Penéllope Aquino
Foto: Alex Costa
Se estivesse vivo, Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, estaria fazendo, neste ano, seus 100 anos de idade. O centenário tem rendido várias homenagens ao artista por todo Brasil, não somente na música, mas também em outras manifestações artísticas.

O sanfoneiro deixou um legado e influenciou as gerações seguintes com a excelência de seu xaxado e forró pé-de-serra. Sua obra mantem-se viva nas apresentações de muitos artistas, inclusive nas do cantor Novinho da Paraíba, que contou ao Recifense as influências do Gonzagão na sua carreira.

“Eu tenho muito orgulho das minhas origens, de ter nascido no sítio, na área rural. Eu me criei ouvindo Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Marinês, Luís Gonzaga e tantos outros. Quando eu tinha uns dez anos eu fui à feira, e para as pessoas que moram na área rural, a feira dia de sábado é um ponto de encontro, uma festa. Naquele dia, por volta das onze horas da manhã, estava Luiz Gonzaga em cima de um caminhão tocando e fazendo a propaganda de um produto. Eu simplesmente me encantei com Luiz Gonzaga tocando. Passaram-se muitos anos, eu fui servir ao exército e só aos vinte anos eu ingressei definitivamente na música.”
Novinho da Paraíba é natural da cidade de Monteiro na Paraíba, e sempre gostou de cantar e tocar sanfona. O primeiro contato com o instrumento foi quando tinha apenas cinco anos, com uma sanfona deixada por seu padrinho provisoriamente em sua casa. Luiz Gonzaga foi uma das suas inspirações e lhe encantava a ideia de estar perto do seu mestre.

“Já aqui no Recife eu lembro que aconteceu uma festa no Clube Náutico e íamos nos apresentar junto com Luiz Gonzaga e o radialista Reinaldo Belo. Falaram que teria uma entrevista para divulgar o evento e eu deveria estar lá às seis horas da manhã. Então, cheguei bem cedo, e, na, época, a minha música ‘Solidão no Peito’ estava estourada. Quando cheguei à rádio, o vigia me reconheceu logo e falou: ‘Você é o Novinho da Paraíba, você pode entrar, mas o sanfoneiro vai ter que esperar o diretor chegar, que só com a autorização dele’. Fiquei lisonjeado, mas pedi para ele trocar: eu ficava no lugar do sanfoneiro e ele deixava entrar aquele – que, na verdade, era Luiz Gonzaga, porque ele sim merecia respeito”, lembrou o cantor.

“Um momento que me marcou foi quando eu encontrei Luiz Gonzaga no escritório de Pinga, meu produtor musical na época, e fiquei pensando comigo: ‘Você tem que se comportar e ficar quietinho, afinal você também é sanfoneiro, artista, e tem que manter a postura. Mas, eu não aguentei. Fiquei todo me tremendo quando cheguei perto do Gonzagão! Aí ele falou comigo: ‘E aí Novinho? Você tá bem novinho, mas se prepare pra ficar corcunda’. ‘Por que seu Luís?’ perguntei. ‘Porque todo sanfoneiro fica assim por causa do peso da sanfona’. E ele estava certo, realmente eu já estou sentindo os efeitos do acordeão”, recordou Novinho.

O Rei do Baião encontrou no interior do nordeste brasileiro o local ideal para desenvolver sua poesia. A popularização da sua obra no meio urbano e como Gonzaga lidava com essa situação provocou alguns questionamentos em Novinho da Paraíba. “Certa vez eu o ouvi dizer que era muito bom a moçada estar buscando o forró. Pois, na época que ele começou, não havia avião, nem automóvel e não tinha essa globalização e o forró era música do curral, do sertão, do matuto e ver o forró se tornar urbano era algo muito bom. E eu não entendia muito bem o que ele queria dizer e ficava me perguntando se ele estava se achando muito velho com relação à turma que estava chegando. Se pensava estar chegando ao fim, e nós estávamos ali sem saber ao certo tudo que ele passou para chegar aonde chegou. Eu não entendi direito naquele primeiro momento, mas hoje eu compreendo que isso é uma estrada asfaltada pelo Gonzagão. Hoje está todo muito passando por cima, uns com muito orgulho de falar, outros se aproveitando desse nome de forró e baião. Nós não somos nada mediante esse patrimônio que é Luiz Gonzaga”, contou o sanfoneiro.

Novinho da Paraíba não podia ficar à parte das grandes homenagens prestadas a Luiz Gonzaga. Para isso, preparou o CD“Cem Anos de Gonzagão”, composto por vinte músicas garimpadas da vasta discografia de Luiz Gonzaga. “Eu sou fã do Gonzagão desde que nasci. A gravadora sempre dizia para eu fazer uma homenagem a Luiz Gonzaga, mas sempre achei que não era o momento. Nisso se passaram vinte anos de adiamento até que há quatro anos comecei a pensar numa homenagem ao centenário. Ouvi mais de 500 músicas escutadas do repertório para conseguir extrair as vinte para compor o CD. Esse material tem uns dois anos de preparação entre gravações e capa”, explicou o paraibano.
Para chegar ao material que hoje é apresentado nos shows, foram muitos meses de dedicação, desde a seleção das músicas, até o figurino dos seus dançarinos. “Outra coisa interessante é a concepção da capa. Eu gosto muito da cultura do nordeste e no ano passado estava em Bezerros quando tive a oportunidade de ver uns quadros do J. Miguel e J. Borges e ali comecei a pensar uma forma de falar com essas pessoas para fazer a capa do CD em formato de xilogravura. Seria uma arte do Gonzagão no céu e Novinho da Paraíba e o povo nordestino sofrendo na terra, na seca do sertão. Eles aceitaram a ideia, mas foi muito trabalhoso. Um total de seis meses para chegar ao resultado final”, frisou o artista.
Novinho da Paraíba destaca uma composição desse material que lhe tocou desde a infância e que ele canta especialmente para seu mestre. “Desde os oito anos de idade, quando comecei a ouvir a musica ‘A Hora do Adeus’, de Onildo Almeida, gravada por Luís Gonzaga, achava que ela deveria ser cantada não por ele, mas para ele. Então, tive a ousadia de mudar a pessoa do verbo para poder homenageá-lo. Não é fácil mexer na obra sem tirar a originalidade. É uma história muito rica e dá para fazer uns cinco discos”, completou.
Para homenagear os cem anos desse ilustre pernambucano, muitos eventos ainda vão acontecer ao longo do calendário cultural brasileiro. Muita gente ainda vai se emocionar e relembrar o baião, o xote e o xaxado do Gonzagão.

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